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Tribunal da injustiça - Uma nação de joelhos
Enquanto alguns dos homens mais honrados do país estão, injustamente, no banco dos réus, outros, que deveriam estar presos, dão as cartas do jogo.
Publicado em 11/06/2025 19:46
Política

Por Karina Michelin

O julgamento de Jair Bolsonaro e dos réus do 8 de janeiro foi, desde o início, muito mais do que um simples processo judicial: tornou-se uma exibição pública de força, sarcasmo e humilhação, cuidadosamente orquestrada sob o manto da legalidade.

O que está em curso não é um debate jurídico sério sobre fatos e provas, mas a consolidação de um modelo de poder autorreferente, que já escolheu culpados e agora apenas interpreta o roteiro previamente escrito para condenar.

Durante o depoimento, Bolsonaro tentou ironizar Moraes, sugerindo: “Quem sabe o senhor não seja meu vice?” A frase, que pretendia expor a contradição de um ministro que se apresenta como juiz, mas atua abertamente como adversário político, acabou gerando o efeito oposto.

Moraes não recuou no seu papel de protagonista do espetáculo. Perguntou a Anderson Torres se ele já havia sido preso - sabendo que ele próprio ordenou a tornozeleira eletrônica do ex-ministro. Repetiu o mesmo teatro com o General Braga Netto: “O senhor já foi preso?”, o general respondeu: “Estou preso”. Moraes com ironia e sarcasmo responde: “Eu sei, fui eu quem decretei sua prisão.”

Não há ingenuidade nesses gestos. O tribunal não julga apenas atos concretos; julga posturas, intenções e, sobretudo, a disposição de resistir. O STF, com Moraes à frente, converteu o julgamento em um exercício de pedagogia autoritária: expor, humilhar, isolar e esmagar publicamente quem ousou questionar o sistema.

No fundo, a própria acusação contra Bolsonaro é frágil e grotesca, mas para o STF não importa. Mesmo em sua pior leitura possível, o que se poderia dizer é que o ex-presidente cogitou reagir politicamente quando o próprio Alexandre de Moraes, como presidente do TSE, aplicou uma multa draconiana de R$ 22 milhões ao PL simplesmente por questionar o sistema eleitoral - tema que, no Brasil, inexplicavelmente se transformou numa vaca sagrada intocável. Intocável para uns, claro, porque Flávio Dino, hoje ministro de Lula, disse coisas iguais ou piores sobre as urnas eletrônicas, sem sofrer qualquer represália.

Luiz Fux, ex-presidente do TSE, reconheceu algo elementar: em uma democracia, se uma parcela expressiva da população exige maior auditabilidade, o sistema deve ouvir. Democracia não se sustenta sobre fé cega. Mas no Brasil atual, ao invés de dialogar com as preocupações legítimas do eleitorado, o Supremo decidiu esmagar qualquer dúvida pela força bruta da censura, da intimidação e do lawfare.

A face mais perversa desse autoritarismo é justamente a tentativa de travestir tudo isso de “liberalismo”. Moraes posa internacionalmente como “liberal clássico”, enquanto atua como censor implacável dentro do país: persegue hashtags, manda extrair dados pessoais de usuários, manda prender por postagens, bloqueia redes sociais, silencia veículos de imprensa, prende opositores políticos e dissidentes.

Por trás da encenação, há uma questão moral ainda mais profunda. Diante da força bruta do sistema, muitos tentam garantir sua sobrevivência através de bajulações, acreditando, ingenuamente, que elogiar o algoz possa lhes render algum tipo de indulgência. É um erro fatal.

Quando o processo já está contaminado por motivações políticas, nenhum gesto de submissão altera o desfecho - a sentença de morte política já está escrita.

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